sábado, 22 de setembro de 2012

Depoimento da Prof Ingrid sobre o I Ciclo de Oficinas sobre Relações Étnico-raciais



Apenas minha opinião agora!

" E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a agradável e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12:2)

Uma das primeiras perguntas que me fazem é como consigo lidar com as questões da Cultura Afro (que muitos ligam fortemente à religião), sendo eu evangélica. E sendo negra, como posso ser cristã? Pra mim é muito simples

: Não há como negar minhas origens e nem quero, mesmo porque durante muito tempo me foi negado conhecer meu verdadeiro legado, mas também tenho o direito de escolher a fé que quero professar, pois é uma decisão pessoal e particular, até porque, o DIVINO é acima de qualquer denominação, classificação e para mim não importa isso, importa é ter tolerância, respeito, amor, ter princípios, conviver bem com todos da melhor forma possível estabelecendo boas relações. Se houver respeito entre os seres, todos poderão cultivar o que acreditam, evangelicos, catolicos, umbandistas, espíritas, mulçumanos... Por isso não me conformo com esse século que deseja me enquadrar. Procuro me transformar através da renovaçao da minha mente e assim creio experimentar a perfeita e agradável vontade de Deus, que acredito ser amar ao meu próximo independentemente da sua crença, cultura, classe social, econômica e histórica.

Apenas minha opinião agora!

Filme: A princesa e o Sapo

Filme: A princesa e o sapo

A Princesa e o Sapo (título original: The Princess and the Frog), é um filme animado pela Walt Disney Animation Studios (2009).

Realmente é um filme muito bonitinho e que maravilha: Finalmente príncipes e princesas negras. Mas...

É preciso ter uma postura crítica ao assistí-lo e ao trabalhar com ele em sala de aula.

Embora retrate figuras negras de forma bela (dentro de um padrão já estabelecido por nossa sociedade - não há traços característicos que o negro se identifique, a "princesa" parece uma Barbie pintadinha de pretinha), devemos atentar para o que esse filme intensifica, reproduz, reforça na mente dos nossos pupilos.

A história remonta um cenário negando novamente o nosso legado da cultura negra. Novamente, a menina negra não tem origem (a princesa - de nada, só porque intitularam assim, pois não há nada que dê motivo para ter esse título. Por que não referendar que poderia ser princesa, por exemplo, em sua origem? Pois na África também houve/há reis, príncipes, realeza), apenas coloca-se que é filha de empregada e o seu maior sonho é ser cozinheira, dona de um restaurante (não desmerecendo a profissão), mas o que isso representa em nosso contexto histórico-cultural, que subconscientemente o lugar da mulher negra é na cozinha. O rapaz negro, o príncipe, gosta de arte, música (que não é muito reconhecido como uma profissão de valor), não gosta de trabalhar, sem credibilidade alguma, um vagabundo, incapaz de ter responsabilidade. Novamente, reforçando a idéia de que negro não passa disso, um vagabundo e deve viver na senzala (o príncipe é deserdado).

Os príncipes e princesas das histórias europeias são sempre heróis, a missão sempre é salvar o reino inteiro, sofrem injustiças e no final vivem felizes para sempre, admirados por todos, tornando-se reis e rainhas de fato, lugar de sua origem.

Vejam como reproduzimos esse pensamento para os nossos pupilos negros e não-negros mais uma geração à dentro. Não podemos permitir isso! O professor precisa fazer essa crítica, ter esse cuidado, esse olhar e discutir com seus alunos (de qualquer nível, modalidade, faixa etária) para que não continuemos a ver o mundo com essas diferenças tão discrepantes e cruéis, porque é isso que simboliza.

Em meio a cantorias e muita aventura durante o filme, é preciso atentar para essas estruturas, e não digo que não devamos usá-los como instrumento, pelo contrário, utilizar o material para refletir a nossa sociedade, os nossos conceitos e preconceitos, nossa mentalidade, porque certamente, nem nos damos conta da imagem tão negativa que estamos reproduzindo sobre nós mesmos. Então, sugiro que ao assistir esse filme (e outros) tenham esse novo olhar, para que possamos ter o discernimento, a capacidade e a coragem para discutir esse assunto tão delicado para nós, pois é doloroso assumir que na verdade é mais ou menos assim mesmo que pensamos, mas isso é um projeto introduzido em nossa história há séculos, é claro que não é fácil desconstruir esse jeito de pensar de uma hora para outra, mas já é hora! Aliás, já passou da hora! E é esse o nosso papel, o nosso desafio como professor, fomentar o pensamento crítico em nossos educandos, mas é preciso que o professor tenha essa visão.

Conto contigo para repensar a sua postura diante das questões do negro e muitos outros segmentos que sofrem discriminações e preconceitos.

Apenas minha opinião agora!

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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Águia e a Galinha – Leonardo Boff e James Aggrey

A Águia e a Galinha – Leonardo Boff e James Aggrey.

Todo ponto de vista é avista de um ponto

Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.
Com estes pressupostos vamos contar a história de uma águia, criada como galinha. Essa história será lida e compreendida como uma metáfora da condição humana. Cada um lerá e relerá conforme forem seus olhos. Compreenderá e interpretará conforme for o chão que seus pés pisam.
Os antigos bem diziam: habent sua fata libelli, os livros têm seu próprio destino. Tinham razão, porque o destino dos livros está ligado ao destino dos leitores. E aí entram em cena a águia e a galinha, carregadas de significação, como veremos ao longo da nossa história.
Esperamos que para você a águia e a galinha se transformem também em símbolos e sacramentos da busca humana por integração e por equilíbrio dinâmico.
Desejamos que a águia sepultada desperte e voe, ganhando altura e ampliando os horizontes de sua releitura e compreensão de você mesmo e do mundo.
Convidamos você a fazer-se, junto com as forças diretivas do universo, co-criador/co-criadora do mundo criado e por criar.
 A Águia e a Galinha
Era uma vez um político, também educador popular, chamado James Aggrey. Ele era natural de Gana, pequeno país da África Ocidental. Até agora, talvez, um ilustre desconhecido. Mas, certa feita, contou uma história tão bonita que, com certeza, já circulou pelo mundo, tornando seu autor e sua narração inesquecíveis.
Como muitas pessoas provavelmente não tiveram a oportunidade de ler sua história, nem de conhecer seu país, vamos inicialmente falar um pouco de Gana e relembrar aquela história.
Gana está situado no Golfo da Guiné, entre a Costa do Marfim e o Togo. Sua longa história vem do século IV. Alcançou o apogeu entre 700 e 1200 de nossa era. Naquela época havia tanto ouro que até os cães de raça usavam coleiras e adornos com esse precioso metal.
No século XVI Gana foi feita colônia pelos portugueses. E por causa do ouro abundante chamaram-na de Costa do Ouro. Outros, como os traficantes de escravos, denominavam-na também de Costa da Mina.
No século XVIII, época do chamado ciclo da Costa da Mina, vieram dessa região, especialmente para a Bahia, cerca de 350 mil escravos. Com eles vieram e foram incorporados muitos elementos de sua cultura. O uso medicinal das folhas (ewé) que curam somente quando acompanhadas de palavras mágicas e de encantamento. E sua religião, o ioruba ou o candomblé, que possui uma das teologias mais fascinantes do mundo. Faz de cada pessoa humana uma espécie de Jesus Cristo, que quer dizer, um virtual incorporador dos orixás, divindades ligadas à natureza e as suas energias vitais.
Os escravos eram negociados em troca de fumo de terceira. Refugado por Lisboa, esse fumo era muito apreciado na áfrica por causa de seu perfume. Dizia-se até: “a Bahia tem fumo e quer escravos; Costa da Mina tem escravos e quer fumo; portanto façamos um negócio que é bom para os dois lados”. A maioria dos escravos das plantações de cana-de-açúcar nos Estados Unidos veio também da região de Gana.
A pretexto de combater a exportação de escravos para as Américas, a Inglaterra se apoderou desta colônia portuguesa. De início, em 1874, ocupou a costa e, em seguida, em 1895, invadiu todo o território. Gana perdeu assim a liberdade, tornando-se apenas mais uma colônia inglesa.
A libertação começa na consciência
 A população ganense sempre alimentou forte consciência de sua história e muito orgulho da nobreza de suas tradições religiosas e culturais. Em conseqüência, foi constante sua oposição a todo tipo de colonização. James Aggrey, considerado um dos precursores do nacionalismo africano e do moderno pan-africanismo, fortaleceu significativamente esse sentimento.
Ele teve grande relevância política como educador de seu povo. Para libertar o país – pensava ele à semelhança de Paulo Freire – precisamos, antes de tudo, libertar a consciência do povo. Ela vem sendo escravizada por idéias e valores antipopulares, introjetados pelos colonizadores.
Com efeito, os colonizadores, para ocultar a violência de sua conquista, impiedosamente desmoralizavam os colonizados. Afirmavam, por exemplo, que os habitantes da Costa do Ouro e toda a áfrica eram seres inferiores, incultos e bárbaros. Por isso mesmo deviam ser colonizados. De outra forma, jamais seriam civilizados e inseridos na dimensão do espírito universal.
Os ingleses reproduziam tais difamações em livros. Difundiam-nas nas escolas. Pregavam-nas do alto dos púlpitos das igrejas.  E propalavam-nas em todos os atos oficiais.
O martelamento era tanto que muitos colonizados acabaram hospedando dentro de si os colonizadores com seus preconceitos. Acreditavam que de fato nada valiam. Que eram realmente bárbaros, suas línguas, rudes, suas tradições, ridículas, suas divindades, falsas, sua história sem heróis autênticos, todos efetivamente ignorantes e bárbaros.
Pelo fato de serem diferentes dos brancos, dos cristãos e dos europeus, foram tratados com desigualdade, discriminados. A diferença de raça, de religião e de cultura não foi vista pelos colonizadores como riqueza humana. Grande equívoco: a diferença foi considerada como inferioridade!
Processo semelhante ocorreu no século XVI com os indígenas da América e com os colonizados da Ásia. E ocorre ainda hoje com os países que não foram inseridos no novo sistema mundial de produção, de consumo e de mercado global, como a maioria das nações da América Latina, da África e da Ásia. Elas são consideradas “sem interesse para o capital”, tidas, em termos globais, como “zeros econômicos” e suas populações vistas como “massas humanas descartáveis”, “sobrantes” do processo de modernização. São entregues à própria fome, à miséria e à margem da história feita pelos que presumem ser os senhores do mundo. Estes mostram, por isso, uma insensibilidade e uma desumanidade que dificilmente encontra paralelos na história humana.
Infelizmente, a mesma discriminação acontecem com os pobres e miseráveis, com as mulheres, os deficientes físicos e mentais, os homossexuais, os portadores do vírus HIV, os hansenianos e todos aqueles que não se enquadram nos modelos preestabelecidos. Todos são vítimas do preconceito e da exclusão por parte daqueles que se pretendem os únicos portadores da humanidade, de cultura, de saúde, de saber e de verdade religiosa.
- Dominadores, vossas arrogância vos torna cruéis e sem piedade. Ela vos faz etnocêntricos, dogmáticos e fundamentalistas. Não percebeis que vos desumanizais a vós mesmo?  Reparai: onde chegais, fazeis vítimas de toda ordem por conta do caráter discriminador, proselitista e excludente de vossas atitudes e de vosso projeto cultural, religioso, político e econômico que impondes a todo mundo! 
A libertação se efetiva na prática histórica
Toda colonização – seja a antiga, pela invasão dos territórios, seja a moderna, pela integração no mercado mundial – significa sempre um ato de grandíssima violência. Implica o bloqueio do desenvolvimento autônomo de um povo. Representa a submissão de parcelas importantes da cultura, com sua memória, seus valores, suas instituições, sua religião, à outra cultura invasora. Os colonizados de ontem e de hoje são obrigados a assumir formas políticas, hábitos culturais, estilos de comunicação, gêneros de música e modos de produção e de consumo dos colonizadores. Atualmente, se verifica uma poderosa “hamburguerização” da cultura culinária e uma “rockiquização” dos estilos musicais. Os que detêm o monopólio do ter, do poder e do saber, controlam os mercados e decidem sobre o que se deve produzir, consumir e exportar. Numa palavra, os colonizados são impedidos de fazer suas escolhas, de tomar as decisões que constroem sua própria história.
Tal processo é profundamente humilhante para um povo. Produz sofrimentos dilaceradores. A médio e a longo prazo não há razões, quaisquer que sejam, que consigam justificar e tornar aceitável tal sofrimento. Aos poucos ele se torna simplesmente insuportável. Dá origem a um antipoder. Os oprimidos começam a “extrojetar” o opressor que forçadamente hospedam dentro de si. É o tempo maduro para o processo de libertação. Primeiro, na mente. Depois, na organização. Por fim, na prática.
Libertação significa a ação que liberta a liberdade cativa. É só pela libertação que os oprimidos regatam a auto-estima. Refazem a identidade negada. Reconquistam a pátria dominada. E podem construir uma história autônoma, associada à historia de outros povos livres.
- Oprimidos, convencei-vos desta verdade: a libertação começa na vossa consciência e no resgate de vossa própria dignidade, feita mediante uma prática conseqüente. Confiai. Jamais estareis sós. Haverá sempre espíritos generosos de todas as raças, de todas as classes e de todas as religiões que farão corpo convosco na vossa nobre causa da liberdade. Haverá sempre aqueles que pensarão: cada sofrimento humano, em qualquer parte do mundo, cada lágrima chorada em qualquer rosto, cada ferida aberta em qualquer corpo é como se fosse uma ferida no meu próprio corpo, uma lágrima dos meus próprios olhos e um sofrimento do meu próprio coração. E abraçarão a causa dos oprimidos de todo o mundo. Serão vossos aliados leias.
James Aggrey incentivava em seus compatriotas ganenses tais sentimentos de solidariedade essencial. Infelizmente não pôde ver a libertação de seu povo. Morreu antes, em 1927. Mas semeou sonhos.
A libertação veio com Kwame N´Krumah, uma geração após. Esse aprendeu a lição libertária de Aggrey. Apesar da vigilância inglesa, conseguiu organizar em 1949 um partido de libertação, chamado de Partido de Convenção do Povo.
N´Krumah e seu partido pressionaram de tal maneira a administração colonial inglesa, que o Governo de Londres se viu obrigado, em 1952, a fazê-lo primeiro-ministro. Em seu discurso de posse surpreendeu a todos ao proclamar: “Sou socialista, sou marxista e sou cristão”.
Obteve a sua maior vitória no dia 6 de março de 1957 quando presidiu a proclamação da independência da Costa do Ouro. Agora o país voltou ao antigo nome: Gana. Foi a primeira colônia africana a conquistar a sua independência.
Gana tem hoje 238.537 quilômetros quadrados, com densa selva tropical ao sul, atravessada pelo grandioso rio Volta de 1.600 quilômetros de comprimento. A represa Akoddombo, feita com o rio, forma um imenso lago de 8.482 quilômetros quadrados, numa extensão de quatrocentos quilômetros.  A capital é Accra, com cerca de 700 mil habitantes numa população total de 16, a milhões de pessoas. Estima-se que 20 ano 2000 Gana terá 20 milhões de habitantes.
Se aplicarem os ideais de James Aggrey, consolidarão sua identidade e autonomia. E avançarão pouco a pouco no sentido de uma cidadania participativa e solidária.
Nós somos águias.
Vamos, finalmente, contar a história narrada por James Aggrey.
O contexto é o seguinte: em meados de 1925, James havia participado de uma reunião de lideranças populares na qual se discutiam os caminhos da libertação do domínio colonial inglês. As opiniões se dividiam.
Alguns queriam o caminho armado. Outros, o caminho da organização política do povo, caminho que efetivamente triunfou sob a liderança de Kwame N´Krumah. Outros se conformavam com a colonização à qual toda a áfrica estava submetida. E havia também aqueles que se deixavam seduzir pela retórica dos ingleses. Eram favoráveis à presença inglesa como forma de modernização e de inserção no grande mundo tido como civilizado e moderno.
James Aggrey, como fino educador, acompanhava atentamente cada intervenção. Num dado momento, porém, viu que líderes importantes apoiavam a causa inglesa. Faziam letra morta de toda a história passada e renunciavam aos sonhos de libertação. Ergueu então a mão e pediu a palavra. Com grande calma, própria de um sábio, e com certa solenidade, contou a seguinte história:
“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.
Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei cimo galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que de fato você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
– Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra as suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou… voou… até confundir-se com o azul do firmamento…”
E Aggrey terminou conclamando:
- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.

FONTE: http://alfabetizacaosolidaria.wordpress.com/a-aguia-e-galinha/

sábado, 28 de julho de 2012

Formação Continuada para Professores com as Oficineiras Prof Ingrid Costa e Rosangela Samaniegona E. E. Adelaide Alvim






















Oficina de Relaxamento - Cuidando de si! Prof Ingrid Costa




Esta atividade foi desenvolvida na E. E. Adelaide Alvim na Formação Continuda para os Professores da Escola.
Tenho feito esse trabalho há muitos anos com professores, pais e alunos. São momentos únicos... Com certeza melhora as relações, principalmente consigo mesmo... Os professores precisam cuidar da sua saúde mental e essa é uma ótima ferramenta que poderíamos usar mais vezes em nossas escolas. Com certeza saimos desse encontro conhecendo um pouco mais dos nossos colegas e admirando-os mais e nos fazendo conhecer melhor. Fica como sugestão...

Ficha de inscrição para participar da Roda de Conversa "Superando o Racismo na Escola".

Participe da Roda de Conversa "Superando o Racismo na Escola", que acontecerá no dia 4 de setembro de 2012, na Escola Viva (Av. Portugal, 38) - Rio Grande/RS, às 17 horas. Inscreva-se On-line pelo Link abaixo:

https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?fromEmail=true&formkey=dF9pNmFOeWY0STExVWlqZHpvazZSOVE6MQ

Assessoria das Relações Étnico-Raciais
SMEC - Rio Grande -RS
Informações: Assessora Prof Ingrid Costa
Tel: (53) 91490212 ou 32314115
email: assessoriaetnicorracial@yahoo.com.br

segunda-feira, 18 de junho de 2012

FICHA DE INSCRIÇÃO PLENÁRIA REGIONAL SUL – RIO GRANDE 28 a 30 junho de 2012.


FICHA DE INSCRIÇÃO PLENÁRIA REGIONAL SUL – RIO GRANDE
28 a 30 junho de 2012.
Nome:
Instituição que representa:
Profissão:
Instrução: (     ) Ensino Fundamental (     ) Ensino Médio (     ) Superior Inc. (     ) Superior Comp. (     ) Especialização (     ) Mestrado (     ) Doutorado (     ) Pós-doutorado.
Segmento:
(     ) Secretaria Estadual de Educação (     ) Secretaria Municipal de Educação (     ) Secretaria de Justiça ou/e Direitos Humanos (     ) Ministério Público Estadual (     ) Universidade Pública (     ) Universidade Privada (     ) Escola Pública Estadual (     ) Escola Pública Municipal (     ) Escola Privada (     ) Sindicato de Professores de Escolas Públicas (     ) Sindicato de Professores de Escolas Municipais (     ) Sindicato de Professores de Escolas Privadas (     ) Sindicato de Proprietarios de Escolas Privadas                          (     ) Coordenaçao de Igualdade Racial (     ) CEFET (     ) Movimento Negro Organizado                           (     ) Associações (     ) Conselhos de Educação (     ) Comunidade Quilombola (     ) Indigena                   (     ) Especialização em Religião de Matriz Africana (     ) Entidades Culturais (     ) Outras.    
Endereço:
Cidade:
Bairro:
CEP:                                                                                           UF:
e-mail:
Telefone fixo: (     )_________________________ Fax: (     )___________________________
Telefone celular: (     )________________________
Data:                                                         Local:
Assinatura:


PLENÁRIA REGIONAL DO FORUM PERMANENTE DE EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ETNICORRACIAL DO RS - REGIÃO SUL - RIO GRANDE DE 28 A 30 DE JUNHO DE 2012

Divulgue e participe!

PLENÁRIA REGIONAL DO FORUM PERMANENTE DE EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ETNICORRACIAL DO RS - REGIÃO SUL - RIO GRANDE

DE 28 A 30 DE JUNHO DE 2012

Informações: Assessoria Pedagógica das Relações Étnico-Raciais (SMEC - Rio Grande)

Segue programação:

Plenária Regional do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Etnicorracial do RS – Região Sul – Rio Grande.
De 28 a 30 de junho de 2012.
Local: Teatro Municipal de Rio Grande.
Endereço: Av. Major Carlos Pinto, nº 312 – Bairro Cidade Nova – Rio Grande/RS.
1º dia – 28.06.2012
18h às 19h - Credenciamento e Recepção aos Participantes
19h – Mesa de abertura - Abertura Oficial - Autoridades Políticas, Governamentais e
Institucionais
19h 30min - Palestra de Abertura “Afirmando diferenças: montando o quebra-cabeça da diversidade na Escola”
20h15min – Debate

2º dia – 29.06.2012
9h Mesa Redonda I:
“A implementação da Lei 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”
Coordenação da Mesa – Representante da SMEC Rio Grande/RS
Palestrantes:
· SECADI –
· FURG –
· Conselho Estadual de Educação
· Prof. Dra. Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
11h - Debate
12h - Almoço
14h Mesa Redonda II:
“Fórum Estadual Permanente: Retomando o diálogo da implementação da lei 10.639/03”
Palestrantes:
Coordenação da Mesa a cargo do Fórum Permanente do RS.
• SECADI/MEC –
• SEDUC/RS –
• Coordenação do Fórum RS –
· Ministério Público Estadual –
16h30 - Debate
17h – Intervalo
17h15min – Mesa Redonda III:
O Plano Nacional de Educação e a ERER
Palestrantes:
Coordenação da Mesa a Cargo da SEDUC
  • Comissão de Educação da ALRS
  • UNDIME/RS
  • SEPPIR
  • IFSUL
  • Universidade da Região Sul
18h30min – Debate
19h - Atividade Cultural de Encerramento
21h – Jantar de Confraternização (Comidas típicas africanas, preferencialmente)
3º dia – 30.06.2012
9h Mesa Redonda I:
* Ações efetivas de implementação da Lei 10.639/03:
* SMEC Rio Grande –
* Escola Estadual de Pelotas –
* UFPEL –
* Movimento Negro de Rio Grande -
11h - Debate
12h - Almoço
14h Mesa Redonda II:
“Fórum Estadual Permanente RS: Regionalização e Institucionalização, criação e fortalecimento”
Palestrantes:
Coordenação da Mesa a cargo do Fórum Permanente do RS
• SECADI/MEC –
• SEDUC/RS –
• SEPPIR -
15h30 - Debate
16h – Mesa de Encerramento e Encaminhamentos
16h30 – Atividade Cultural de Encerramento
 

Coordenador do Fórum Permanente de Educação
e Diversidade Etnicorracial do RS.
 
 
 
Secretaria Executiva:
Secretaria Estadual de Educação - SEDUC
End: Av. Borges de Medeiros, nº 1501.
        Bairro Praia de Belas - Porto Alegre/RS
        CEP: 90.110-150
e-mail: forumdiversidaders@gmail.com
Fone:
51.32884813

 
Inscrição:
·         forumdiversidaders@gmail.com

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Uma Cigana Negra!


Em homenagem ao Dia Nacional do Povo Cigano (24 de maio) eu me caracterizei de Cigana e fiz uma pequena performance dançante-musical para chamar a atenção dos nossos professores para destacar em sala de aula essa belíssima cultura desmitificando preconceitos. Foi muito bom!!! Iniciei assim o encontro.

I Ciclo de Oficinas para a Educação das Relações Étnico-Raciais
Oficina 2 - Música Afro
Oficineira: Prof Msc Ingrid Costa
Promoção: Assessoria Pedagógica das Relações Étnico-Raciais - SMEC Rio Grande/RS

I Ciclo de Oficinas Pedagógicas para a Educação das Relações Étnico-Raciais - SMEC - Rio Grande-RS



Oficina 3 - Artes Plásticas Afro - Estampa Africana em camisetas
Responsável: Assessora Pedagógica das Relações Étnico-Raciais  -  Prof Msc Ingrid Costa
Oficineira: Prof Esp Rosangela Samaniego


Espelho meu: as crianças e a questão étnico-racial

Espelho meu: as crianças e a questão étnico-racial

Por Yvone Costa de Souza

Falar e escrever sobre racismo e preconceito implica na apropriação da história da África e do Brasil pelas instituições, professores(as) e educadores(as), entendendo-os como sujeitos histórico-sociais, capazes de intervir nos processos de ensino e de pesquisa que constituem a dinâmica social no cotidiano da escola, demarcando-se que o território africano é composto da diversidade étnica, cultural e política. As matrizes culturais características desse povo, originadas e existentes no continente africano, delimitam as variadas etnias e suas culturas, ressaltando, também, a importância de cultuar os ancestrais de um povo excluído das matrizes curriculares e escondido em propostas pedagógicas emblemáticas de uma cultura eurocêntrica.

Ao tratar da questão das diversidades racial e cultural nas creches e na Educação Infantil torna-se relevante considerar a formação docente, que deveria ser o primeiro critério para a seleção das professoras que trabalham na Educação Infantil. Os cursos de formação em nível médio, modalidade normal, e em pedagogia de nível superior não se constituem de uma matriz curricular, mas, como coloca Gomes e Silva (2002), deveriam propor “o desafio de construir e implementar propostas voltadas para uma pedagogia da diversidade e assim construir uma proposta mais coletiva” que contemple a infância pequena.

A má qualidade da formação e a ausência de condições adequadas ao exercício do trabalho dos professores são históricas em nosso país, trazendo em evidência as amarras sociais e culturais encontradas no cotidiano da prática docente. Um professor ou uma professora, no seu curso de formação, estuda e é apresentado(a) a uma criança e, quando eles chegam para trabalhar nas unidades escolares públicas e comunitárias, encontram outra. Deparam-se com histórias, fatos, locais, situações, solicitações que a sua formação não dá conta. Sua formação profissional permanece periférica. No caso da Educação Infantil, as políticas de formação no Brasil, desde a década de 90, vêm sendo representadas por movimentos para a melhoria na qualidade, resultando numa definição de identidade dos serviços destinados às crianças de 0 a 6 anos.

Para compreender o conjunto de saberes dos professores da educação infantil, é preciso considerar as marcas produzidas historicamente em sua trajetória profissional, marcadas pela diversidade de funções do atendimento às crianças pequenas, que refletem e influenciam o cotidiano da educação infantil (AQUINO, 2008, p. 169).

A formação inicial nos cursos de magistério, modalidade Normal médio e superior, até os anos 90, não contemplava a criança de 0 a 3 anos, o que confirma a invisibilidade dessa faixa etária, mesmo no mundo contemporâneo. Como vimos, somente a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é que se estabeleceu a Educação Infantil como etapa inicial da Educação Básica.

Em relação aos cursos específicos sobre Educação Infantil, podemos concluir que na Formação de Magistério, assim como no Curso de Pedagogia, nas escolas normais e nas universidades, as crianças pequenas não foram apresentadas aos(às) educadores(as).

A compreensão de que trabalhar com Educação Infantil é uma tarefa que não exige formação está ligada a uma visão que não reconhece nesse “cuidado” a sua dimensão educativa, desafiadora, voltada para o desenvolvimento da criança. A presença de professores nas turmas de crianças maiores denuncia o quanto ainda a Educação Infantil  organiza seu trabalho como sendo uma fase preparatória para a escola regular. É como se só as crianças maiores precisassem de um trabalho pedagógico, que, na Educação Infantil, ainda é visto como se fosse unicamente a preparação ou “prontidão” para a escola.

Há necessidade de se estabelecer um currículo em que conversar com a criança que ainda não fala, dar banho, trocar fraldas, colocar no colo, organizar um ambiente que garanta o movimento para aquelas que ainda não andam e deixá-las o menor tempo possível no berço sejam atividades pedagógicas que envolvam interação, preparação, trabalho corporal, afeto, amizade e respeito pelas diferenças e as diversidades.

Percebemos ainda que, embora com formação, muitos têm uma experiência inicial de trabalho em escolas com turmas regulares. O fato de hoje trabalharem em creches não possibilitou muita discussão sobre a especificidade do trabalho com a Educação Infantil como um todo, do berçário às turmas de 6 anos. Há uma necessidade da formação continuada, voltada para a Educação Infantil e que seja entendida como necessária para a atuação em todas as turmas, mas em particular, com as crianças de 0 a 3 anos.

O negro e o preconceito racial são frequentes no espaço da escola e na história do Brasil. A diversidade racial revela a riqueza de um povo de luta, de resistência e as conquistas dos povos negros. Na formação docente e no cotidiano da escola, embora a Lei nº 10.639 garanta os estudos da África e da Cultura Afro-brasileira, estes apenas são apresentados às crianças em datas comemorativas oficiais, fugindo do caminho legal. O emblema eurocêntrico embranquecido é tão forte, que mesmo com a Lei, a escola em seus projetos pedagógicos e práticas cotidianas não a utiliza como ferramenta de desconstrução desse espaço segregatório.

Pensar na formação docente para infância com um currículo de valorização cultural que contemple as nossas origens africanas pautado na diáspora é um caminho de luta contra o racismo. Buscar estudos e ações que considerem o ensino e a pesquisa da história do povo africano, a marca de um povo arrancado, de maneira trágica, de seu continente, lugar de uma rica cultura construída por povos de 53 países, é imprescindível para a construção de um currículo pautado na valorização da diversidade racial.

A África é um dos maiores continentes do planeta, perdendo apenas para a Ásia e a América e, ganhando disparado, do continente europeu. Mas, a marca da dominação herdada e produzida durante esse trágico e cruel episódio, a escravidão, pode ser desconstruída através de propostas, vontade e comprometimento políticos do poder do Estado.

Um dos grandes desafios que se coloca, ligado diretamente à formação dos educadores infantis, é a superação de dificuldades de conviver com as questões raciais entre as crianças e entre eles mesmos, a fim de que se construa uma prática pedagógica voltada para o respeito mútuo, conscientizando-se de que é fundamental lidar com as diferenças, partindo do princípio de que elas são riquezas e precisam ser respeitadas, ou seja, revelar um pouco as emoções, as razões individuais e os preconceitos herdados da nossa história e da nossa cultura. Sem desconsiderar a nossa história de vida, que nos leva a enxergar melhor os impedimentos à mudança, precisamos abandonar os sentimentos e emoções que impossibilitam o enfrentamento dessas questões.

Dialogar com os professores de Educação Infantil sobre as questões raciais, de preconceito e discriminação, permanentemente fez, e ainda faz parte das minhas experiências pessoal e profissional, por acreditar que a troca, a partilha de conversas é um caminho possível para reconstruir ideias, valores e representações que se tem a respeito do negro, na certeza de que essas conversas favorecem as minhas próprias reflexões.

Relembrando as histórias da minha Infância, vejo que os adultos daquela época, assim como os de hoje, não percebiam que muitas brincadeiras tinham um caráter segregatório, faltando-lhes entendimento para reconhecer os indicativos de preconceito para combatê-los durante o processo educativo das crianças.

[...] precisamos sempre rememorar a história – a de cada um de nós e de todos – conhecer a história, estudar a história, desatando a linguagem acorrentada por tão diversas mordaças, ameaças, correntes, grilhões. Destaco, ainda, que os profissionais da educação precisam discutir o racismo e os seus próprios preconceitos, temas que, com frequência, não têm sido reconhecidos como legitimamente pedagógicos. Encontro racismo e preconceito nas coisas da escola? Sim, e muito; e como poderia ser de outro modo? [....] acredito que existe o melhor método, uma única melhor maneira de ensinar isto ou aquilo; que tem especial apego a escolas de desenvolvimento, a padrões de aprendizagem...; que padroniza, que tem nas grades (curriculares) a base de seu trabalho: que separa, que se grega, desagrega, valoriza a delação, a desunião, a premiação e o castigo (KRAMER, 1995, p. 69).

O uso generalizado do conceito de racismo pode esvaziar a importância das questões raciais, impedindo dessa forma o processo de entendimento da necessidade da persistência da discriminação sobre este tema, dentro de um novo enfoque.  

Os estudos que tratam das questões raciais no Brasil estão divididos, de acordo com Nogueira (1979), em três correntes: afro-brasileira, a dos estudos históricos e a sociológica, cada qual trazendo, de acordo com suas especificidades, suas concepções e definições de racismo e preconceito.

Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se tem como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico, para que sofra as consequências do preconceito, diz-se que é de origem  (NOGUEIRA, 1979, p.78-79).

Dentre as diferenças dos preconceitos raciais de marca e de origem, gostaríamos de destacar a questão da carga afetiva, em que, segundo o autor, o preconceito de marca tende a ser mais intelectivo e estético, enquanto o de origem tende a ser mais emocional e integral.

Acreditamos que o racismo, o preconceito racial e os estereótipos negativos experimentados pela criança negra influenciam o seu desenvolvimento global e, em particular, a sua autoimagem e estima. Neste sentido, procuramos destacar como as questões raciais e os preconceitos são percebidos e interpretados no cotidiano das creches.

Segundo definição do “Dicionário de relações étnicas e raciais”, o termo preconceito vem do latim prae, antes, e conceptu, conceito, que pode ser explicado como um conjunto de crenças e valores aprendidos, mesmo não havendo nenhum contato ou experiência compartilhada anteriormente, podendo ser um fenômeno individual ou social. O preconceito social está ligado às classes sociais, às atitudes ou ideias formadas antecipadamente, sem fundamento razoável e de maneira desfavorável em relação aos vários elementos sociais, grupos e culturas.

No cotidiano das instituições de Educação Infantil, frequentemente o professor se depara com uma série de evidências sobre as questões raciais e o preconceito, tendo ou não clareza delas, muitas vezes utilizando práticas pertencentes ao senso comum que podem reforçar o racismo. Percebemos, nas creches, crianças negras querendo os seus cabelos lisos, ruivos, louros e negros escorridos, isto é, buscando a ideia do “belo” que lhes é transmitida através de um processo excludente e preconceituoso, deformando a imagem que a criança negra faz de si e reforçando a negação de sua condição racial.
Nos parâmetros curriculares nacionais esses atores não aparecem, a proposta pedagógica inicial não respeita e acolhe a diversidade étnico-racial; a cultura da criança e suas diversidades aparecem timidamente numa proposta pedagógica excludente; os saberes das disciplinas omitem a cultura local, étnica racial, social e de direito.

Em 2003, foi aprovada a Lei 10.639/03, tornando obrigatório nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, tanto oficiais quanto particulares, o ensino da História e da Cultura Afro-brasileiras, da História da África, o que, esperamos, possa apontar rotas, caminhos e possibilidades de romper com as desigualdades e a intolerância no Brasil. O sucesso da implementação da lei depende da continuação das lutas sociais e coletivas, sendo a sua mera aprovação um exemplo de vitória e conquista dos movimentos sociais.

O convite é para conflagrarmos um lugar de luta sutil e natural, um espaço de mobilização que componha uma pauta contra o racismo e o preconceito, introduzidos nas brincadeiras de roda, de pipa, de amarelinha, reinfantilizando os espaços de formação, de educar e cuidar, não se desprezando a pedagogia do lugar, como cita Ana Beatriz Goulart de Faria (2007), ressaltando a importância de se pensar sobre o

[...] sentido de restaurar a experiência infantil do urbano, o amor pelas esquinas, os esconderijos, os encontros fortuitos, os deslocamentos das funções, o jogo. [...] Imperdível e fundamental a grande estreia dos últimos tempos! (ANA BEATRIZ GOULART, 2007, p.103-104).

Que os meninos e as meninas das creches públicas, comunitárias, privadas, filantrópicas e confeccionais no Brasil não recebam titulações pela cor e pelo pertencimento racial é nosso sonho e esperança.

Yvone Costa de Souza é assistente social da Creche Fiocruz, Mestre em Educação, Cultura e Comunicação pela FEBF-Uerj, especialista em Educação Infantil pela PUC-Rio, professora-substituta do Departamento de Educação e da Infância da Uerj.


Referências bibliográficas

AQUINO, Ligia Maria M. L. L. Saber docente: questões para pensar prática na educação infantil. In: VASCONCELLOS, Vera Maria R. de; AQUINO, Lígia Maria M. L. L. de; DIAS, Adelaide A. (Org.). Psicologia & educação infantil. Araraquara, SP: Junqueira&Marin, 2008.
CASHMORE. Ellis. Dicionário de relações étnicas e raciais. Tradução: Dinah Kleve. São Paulo: Summus, 2000.
FARIA, Ana Beatriz Goulart de. In: FARIA, Ana Lucia G. de. (Org). O coletivo infantil em creches e pré-escolas: falares e saberes. São Paulo: Cortez, 2007.
GOMES, Nilma L.; SILVA, Petronilha Beatriz G. e (Org.). Experiências étnico-culturais para a formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
KRAMER, Sonia. Questões raciais e Educação: entre lembranças e reflexões. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.93, p.66-71, maio/1995.
NOGUEIRA, Oracy. Tanto preto quanto branco. Estudos de Relações Raciais. São Paulo: T.A. Queiroz, 1979.
SOUZA, Yvone Costa de. Atravessando a Linha Vermelha: Programa “Nova Baixada” de Educação Infantil – discutindo a diversidade étnico-racial e cultural na formação docente. 2009. p.119. Dissertação. (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação da Baixada Fluminense. 2009.
Crianças negras: deixei meu coração embaixo da carteira. Porto Alegre: Mediação, 2002.

A COR DA CULTURA!